quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Vulgarizando

O homem vem perdendo
A noção de amar, de venerar
De respeitar e ate de adorar
Com a intenção de arrecadar

Transformando templos em palcos
Cânticos sacros em sambas e palcos
Agenoflexão em requebro e papos
E o venerando padre esquecendo salmos

Carismáticos extremados, estéricos
Fizeram da missa um espetáculo
Onde cristãos são artistas frenéticos

São novidades das modernidades
Onde cada um sente-se livre
Até na maneira de amar, vulgarizando as divindades.

Um comentário:

Anônimo disse...

e não só essas noções ele vem perdendo dá uma olhada no artigo abaixo: Hoje, (...) o homem médio tem as «ideias» mais taxativas sobre quanto acontece e deve acontecer no universo. Por isso perdeu o uso da audição. Para quê ouvir, se já tem dentro de si o que necessita? Já não é época de ouvir, mas, pelo contrário, de julgar, de sentenciar, de decidir. Não há questão de vida pública em que não intervenha, cego e surdo como é, impondo as suas «opiniões».
Mas não é isto uma vantagem? Não representa um progresso enorme que as massas tenham «ideias», quer dizer, que sejam cultas? De maneira alguma. As «ideias» deste homem médio não são autenticamente ideias, nem a sua posse é cultura. A ideia é um xeque-mate à verdade. Quem queira ter ideias necessita antes de dispor-se a querer a verdade, e aceitar as regras do jogo que ela imponha. Não vale falar de ideias ou opiniões onde não se admite uma instância que as regula, uma série de normas às quais na discussão cabe apelar. Estas normas são os princípios da cultura. Não me importa quais são. O que digo é que não há cultura onde não há normas. A que os nossos próximos possam recorrer.
Não há cultura onde não há princípios de legalidade civil a que apelar. Não há cultura onde não há acatamento de certas últimas posições intelectuais a que referir-se na disputa. Não há cultura quando as relações económicas não são presididas por um regime de tráfico sob o qual possam amparar-se. Não há cultura onde as polémicas estéticas não reconhecem a necessidade de justificar a obra de arte.
Quando faltam todas essas coisas, não há cultura; há, no sentido mais estrito da palavra, barbárie. E isto é, não tenhamos ilusões, o que começa a haver na Europa sob a progressiva rebelião das massas. O viajante que chega a um país bárbaro, sabe que naquele território não regem princípios aos quais possa recorrer. Não há normas bárbaras propriamente ditas, a barbárie é ausência de norma e de possível apelação.

Ortega y Gasset, in 'A Rebelião das Massas'

Antônio M.